Garoto sonhador. Ele entrava no ônibus, sentava em um banco sozinho e ocupava o menor espaço. Olhava pela janela e se perdia em tantas coisas, de repente seus olhos já estavam esquecidos e alguma pessoa sentava ao seu lado com as pernas arreganhadas, sem se preocupar, empurrando seu corpo contra o chiclete mascado por um doente que deixou seu rastro no vão do banco. Sua face quase tocava o vidro sujo, cheio de baforadas. Estava cheirando álcool. Ele estava no espaço. Não demorava muito para chegar em casa, como programado ele deixava seu mundo e olhando pra cima, via o farol vermelho quase estalando para virar verde. Ele sempre se levantava nesse segundo, para não se atrapalhar. Tropeçou em alguma pessoas. Seu intento de alcançar o fim do ônibus e chamar a atenção do motorista foi alcançado. Não com muita demora, ele descia. Pulava o ultimo degrau e já saia andando. Andava desolado pela rua, as vezes se equilibrava na guia.
Tentava atravessar a rua, mas os carros não o deixavam. Achou uma brecha e atravessou. As pessoas achavam normal os carros passarem no vermelho, ele não. Estava irritado. Cruzou por muitas pessoas que ele nem queria mais ver. Abriu a porta da sua casa que produziu um som penetrante, estranhamente isso lembrou dos 3 dias de feriado que se seguiriam. Coisa velha, esquecida. Sentou no sofá, deitou e se esqueceu. Sua mãe o chamava, mas não havia nenhum sinal dele nesse mundo. Acordou no dia seguinte, nem parecia que havia adormecido. Eram oito horas da manhã, sonhos se arrastaram durante essas 9 horas de sono, nenhum mais estava em sua mente, tinha se mexido quando acordou. Nem se importava. Três dias em casa, acordava e dormia com o mesmo pijama, todo dia. Sua mãe o perguntava se tinha tomado banho durante esses dias. Não. Ele não havia tomado banho. Ele tentava forçar desculpas dizendo que era pra não gastar água e o dinheiro, que era pouco, de seus pais. Ia começar a rotina novamente, tomou banho e fez a barba que cobria todo seu rosto esquecido.
Madrugada ainda. Escuridão da alvorada. Helicópteros jogavam flashes sobre aquele ônibus. De cabeça para baixo. Há muito tempo devia estar ali. Nada dentro do ônibus sobreviveu. O garoto estava de cara nova, mas a única coisa que o restou foi um caixão pequeno em um cemitério pequeno. Mas ele queria mesmo ter doado seus órgãos e queimado o resto. Ninguém sabia.
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