éramos todos juntos um único ser
não chore quando um de nós morrer
fizemos o que podíamos
uma nação de pássaros seriamos
não quebraríamos as asas de ninguém
enquanto o sol nos esquentar
e nossa energia permanecer
ainda poderemos lutar
e não iremos, nunca, esquecer
aqueles que aqui, nesse chão, pisaram
com o tempo toda dor vai passar
e a liberdade vamos triunfar
sábado, 31 de maio de 2008
quarta-feira, 28 de maio de 2008
eram todas formigas
Toda vez que eu passava por aquela rua, eu pensava no porquê de eu passar por aquela rua. Era como se eu não soubesse o que fazia, eram eternas perguntas sem respostas. Por que não virava naquela outra rua? Era como se eu tivesse preso àquilo, à todas as circunstâncias. Fios me puxavam e empurravam, me ditavam o que fazer. Tudo era encenado a minha volta, tudo acontecia tão igual. Em casa via formigas, elas não me viam. Se espalhavam por todas as paredes e logo se escondiam atrás de algum armário. Eu ficava em silêncio sentado no sofá, imaginava as formigas no metro, elas desciam as escadas e logo se escondiam atrás de um vagão. A sala podia ser branca e as formigas negras logo se destacariam. Toda vez que eu passava por aquela rua, eu me perguntava porque todos passavam por ela. Os seus rostos encaravam o horizonte e nada falavam sobre aquela rua. Por que aquela rua? Por que esse era o caminho? Quem disse a todos vocês que era esse o caminho? Queria seguir e pensar por mim mesmo, mas logo estarei caminhando por aquela rua. Não sei se me arrependerei, pois fiz planos para desvendar todas outras ruas, que eram estranhas, mas eram caminhos que eu podia seguir. Mas sei que tudo isso é difícil, pois aquela rua me prende à ela. Eram todas formigas! Eram todas formigas!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
quase torto e inacabado
foi sempre assim, a baixa auto-estima era constante
em alguns momentos aparecia um sorriso
mas sabia que logo viria alguma palavra fria cortante
era assim: tinha pouco sucesso obtido
pois logo se rebaixava àqueles de antes
fingia não ligar que nunca era querido
até quando iria aguentar as lágrimas para cair
e seu coração sufocado partir em alguns pedaços
e todo o quebra-cabeça de carne ruir
para pessoas assim não se faziam corações de aço
pois, a vida tinha que deixar fluir
e esperar no fim algum querido abraço
em alguns momentos aparecia um sorriso
mas sabia que logo viria alguma palavra fria cortante
era assim: tinha pouco sucesso obtido
pois logo se rebaixava àqueles de antes
fingia não ligar que nunca era querido
até quando iria aguentar as lágrimas para cair
e seu coração sufocado partir em alguns pedaços
e todo o quebra-cabeça de carne ruir
para pessoas assim não se faziam corações de aço
pois, a vida tinha que deixar fluir
e esperar no fim algum querido abraço
domingo, 25 de maio de 2008
papagaios são da chuva como eu sou da terra
Acordou assustado com a chuva na janela, já eram dez horas da manhã. Tinha perdido o horário que estava marcado para ir ao dentista. Ligou e pediu desculpas. Remarcou a consulta para outro dia, porque não tinha mais nenhum horário nesse dia. Era um sábado e os horários eram muito limitados. Enquanto tomava seu café, ouviu gritos. Abriu a janela e fechou o vidro. Através do vidro viu dois papagaios em cima do galho mais alto da árvore. Eles tavam encharcados e papagaiavam algumas coisas. Ele sentiu pena e não sabia o que fazer. Somente ficou olhando. "Pelo menos os dois tem um ao outro", pensou. Bebeu mais um gole de café. Os dois papagaios voaram até embaixo de um toldo. Ele se tranquilizou, não que estivesse muito preocupado, quem não pode tomar um banho de chuva? Sentou no sofá; a caneca agora estava vazia. Passou o resto da tarde pensando em algum livro para escrever ou uma canção para fazer. Mas não tinha experiência o bastante na vida para escrever algo que fizesse as pessoas gostarem. "Não consigo nem escrever algo para mim", pensou. Escreveu algumas palavras desconexas, não faziam sentido. Mas sempre sai alguma coisa, boa ou ruim, não importa. Não era algo pra ser lido com clamor, apenas era pra ler (posso dizer que quase travando). Ele não gostou, então deixou de lado e foi dormir.
Ele andava de uma forma mecânica, suas pernas iam sem os seus pensamentos. Ele tava pensando no que aconteceu no ônibus, antes de ele estar andando. Ele sentou no fundo do ônibus, onde tem cinco lugares juntos. Então, uma garota sentou no meio dos cinco lugares, deixou cair umas moedas. Ele pegou as moedas, ela agradeceu sorrindo e ele sorriu. Passando um tempo ela perguntou onde era o terminal que o ônibus parava, não para ele, mas para um rapaz que estava no outro canto. "Por que não para mim?", ele pensou. Eles estavam conversando agora, quase não dava pra escutar de tão baixo, mas dava pra perceber que o cara falava sobre sair em uma sexta e, tão rapidamente, pedia o celular dela. Ele se sentia constrangido com tudo isso e não conseguia parar de pensar. "Por que não perguntou para mim?", pensava. Sorriu indignado pela situação e olhou pela janela, as gotas da chuva eram finas e caiam intensamente; pois uma das mãos no rosto. Viu que o terminal estava chegando, porque para ele era o terminal que andava até o ônibus, e agradeceu por isso. Não quis ficar lá por mais tempo, ele levantou (antes do ônibus parar), pediu licença e passou. Com o guarda-chuva na mão e as pernas indo pensava em como ele podia ser a água e descer pelo bueiro. Chegou em casa, e cansado tomou seu banho. Depois ficou um tempo sentado no sofá olhando para a televisão. Não aguentou e foi dormir.
Acordou assustado com a chuva na janela, já eram dez horas da manhã. Tinha perdido o horário para ver o sol nascer. Mas via as nuvens se multiplicarem. Um papagaio se dividiu em dois e as árvores diziam estar lá embaixo do vôo deles. A chuva somou ao chão de cimento e o prédio enraizou suas colunas no chão, quase tombou. O papagaio que agora eram dois voou até a janela e se chocou contra ela e continuou fazendo isso. Ele assustado e aflito, pegou uma folha e escreveu:
"deixe-me ir, deixe acontecer, isso vai ser melhor pra mim!"
O prédio impelido pelas suas colunas, imergiu no chão. Levando ele e todos que moravam lá, soterrando seus corpos. Os dois papagaios tomavam a chuva em cima de uma árvore, no galho mais alto. Eles se apoiavam um no outro e cada um deixava meia lágrima se misturar com a chuva.
Ele andava de uma forma mecânica, suas pernas iam sem os seus pensamentos. Ele tava pensando no que aconteceu no ônibus, antes de ele estar andando. Ele sentou no fundo do ônibus, onde tem cinco lugares juntos. Então, uma garota sentou no meio dos cinco lugares, deixou cair umas moedas. Ele pegou as moedas, ela agradeceu sorrindo e ele sorriu. Passando um tempo ela perguntou onde era o terminal que o ônibus parava, não para ele, mas para um rapaz que estava no outro canto. "Por que não para mim?", ele pensou. Eles estavam conversando agora, quase não dava pra escutar de tão baixo, mas dava pra perceber que o cara falava sobre sair em uma sexta e, tão rapidamente, pedia o celular dela. Ele se sentia constrangido com tudo isso e não conseguia parar de pensar. "Por que não perguntou para mim?", pensava. Sorriu indignado pela situação e olhou pela janela, as gotas da chuva eram finas e caiam intensamente; pois uma das mãos no rosto. Viu que o terminal estava chegando, porque para ele era o terminal que andava até o ônibus, e agradeceu por isso. Não quis ficar lá por mais tempo, ele levantou (antes do ônibus parar), pediu licença e passou. Com o guarda-chuva na mão e as pernas indo pensava em como ele podia ser a água e descer pelo bueiro. Chegou em casa, e cansado tomou seu banho. Depois ficou um tempo sentado no sofá olhando para a televisão. Não aguentou e foi dormir.
Acordou assustado com a chuva na janela, já eram dez horas da manhã. Tinha perdido o horário para ver o sol nascer. Mas via as nuvens se multiplicarem. Um papagaio se dividiu em dois e as árvores diziam estar lá embaixo do vôo deles. A chuva somou ao chão de cimento e o prédio enraizou suas colunas no chão, quase tombou. O papagaio que agora eram dois voou até a janela e se chocou contra ela e continuou fazendo isso. Ele assustado e aflito, pegou uma folha e escreveu:
"deixe-me ir, deixe acontecer, isso vai ser melhor pra mim!"
O prédio impelido pelas suas colunas, imergiu no chão. Levando ele e todos que moravam lá, soterrando seus corpos. Os dois papagaios tomavam a chuva em cima de uma árvore, no galho mais alto. Eles se apoiavam um no outro e cada um deixava meia lágrima se misturar com a chuva.
sábado, 24 de maio de 2008
céu
"Não sei quando as coisas vão cair do céu.", foram suas primeiras palavras. As segundas palavras já não foram muito bem entendidas. A sua dicção era horrível. Ele disse tudo isso enquanto chovia, o que fazia ele se contradizer, pois água caía do céu. Ele tentava tocar "Noite Feliz" no piano, embora fosse dia e não era, nem um pouco, feliz. Mas, mesmo com dor de cabeça, ele tocava nota por nota, mesmo que fora do tempo. E a chuva acompanhava o dia e porque não a melodia. Sorria pateticamente com os seus avanços, mesmo que sua vida não estivesse em harmonia. "Quando eu vou chover do céu? E tão rápido cair dele, não me espatifar. Eu sinto como se eu estivesse ali só esperando a minha hora chegar!" Daí se seguiu umas notas e tropeços em seus dedos. Então, ele voltou ao começo e foi assim até chegar a noite, não a feliz.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
yai
"Quando você está ao lado de um amigo, alguém chega e pergunta pro seu amigo porque ele está sozinho. É aí que você percebe ser invisível e, talvez, mais do que isso, um mau amigo.", enquanto dizia isso olhou para o chão, como se quisesse enterrar algumas de suas lembranças. Quando terminou de falar, olhou para mim de um jeito que, se não fizesse aquilo, parecia que eu ia deixar de enxergá-lo.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
são nossas, as perdas
Sentiu um arrepio enquanto andava pela rua. O frio cortava, não tão fundo, somente para deixar um pequeno fio de sangue. A pessoa continuou andando, tentava levantar a cabeça, mas ela continuava a cair e olhar pro chão. O capuz protegia seus pensamentos um pouco densos. Estava com um moletom. Fazia tanto frio que aquele moletom fino não a protegia em nada, e agora se culpava por isso. Esquecera também os seus fones, mas tinha medo de escutar certas músicas em situações como essas. Porque se quisesse escutá-las outra vez, lhe trazeriam lembranças ruins. Ela seguia pelas ruas que estavam iluminadas, muitas ruas tinhas suas luzes apagadas. Então ziguezagueava pela sua pequena e conhecida cidade. Talvez as luzes levassem ela até algum lugar bom. Ou talvez não, a energia elétrica tava ficando escassa, então, talvez, deviam estar economizando, não sabia. Não imaginou muito, logo se situou na alternativa de que apenas deviam ter apagado as luzes dos postes de algumas ruas para economizar. Ninguém era doido de andar em ruas assim as 2 horas da manhã, por isso o vazio. Mas nunca está vazio, sempre há uma gota. Essa gota passava frio, mas passava isso porque queria, uma penitência. Nós fazemos em nós o que nosso arrependimento diz para fazermos. Então ela se machucava, precisava disso. As suas palavras tinham machucado muito outros, ela fazia isso porque ela mesmo estava machucada. Outros machucaram ela, pessoas que ela não considerava em nada. Então, fez sofrer quem ela amava. Tudo por causa de ressentimentos guardados em suas lembranças. Eram suas lembranças. Caiu de joelhos na calçada, o poste de luz que estava em cima dela apagou. O vento era forte e levava algumas folhas de árvores (não se sabe da onde veio, porque não tinha nenhuma árvore naquela rua). Seu rosto tentava levantar e ficar quarenta e cinco graus em relação ao chão, mas não conseguia muita coisa, porque logo fechava os olhos e abaixava a cabeça. Colocou as duas mãos no chão. Não sentia mais frio, apenas pequenos vestígios daquele vento. Sua forma não era mais a mesma; sua roupa já não estava em seu corpo, estava no chão rasgada. Suas patas, firmes, no chão. Era um urso solitário, o único da sua espécie.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
raízes
As suas mãos eram raízes, mas não estavam na terra. Elas não queriam se fincar na terra. Porque sempre pensaram que ali não era o lugar delas. Gostavam de apontar para o céu, e ir além dos céus. Sonhavam em penetrar as nuvens, e mais além as estrelas. Mas só de pensarem no além e na imensidão desse ficavam paradas, estáticas. Pois, o medo descia em forma de grandes chuvas, encharcando-as, deixando-as pesadas e fracas. O além era muito além do que elas podiam chegar. Pensavam que o universo podia ser cortado por elas, e talvez, se descobriria um novo verso. Mas, isso não aconteceria, pois como disse, o peso era muito para se aguentar. Então, ficaram ali mesmo. As vezes apontavam para o céu, apenas como um ritual, e as vezes apontavam para o chão, para se lembrarem aonde pertenciam.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
tristeza
eram momentos onde não se podia dizer
pois nada poderia ser dito
e nem era de se esperar alguém
que sabia calcular a velocidade da vida
tudo vai tão devagar quando não se tá bem
queria que fosse assim com o seu sorriso
fazer isso durar como a tristeza
que não me deixa descansar nem um minuto
pois nada poderia ser dito
e nem era de se esperar alguém
que sabia calcular a velocidade da vida
tudo vai tão devagar quando não se tá bem
queria que fosse assim com o seu sorriso
fazer isso durar como a tristeza
que não me deixa descansar nem um minuto
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Fita cassete
As aves voavam no céu, enquanto sua mente estava presa em alguns problemas. Em sua mão ele tinha uma fita cassete de muitas ali jogadas no chão, onde gravava uma palavra por dia desde os seus vinte anos. Há sete anos ele dizia uma palavra por dia e no chão, cheio de fitas, estava a prova disso. Claro que não as gravava todo dia, porque tinha dias que ele ficava escutando tudo que ele tinha gravado. E esse estava sendo um dia desses. A janela aberta trazia outros ares para aquela sala e deixava cair alguns papéis perto dele, que estava sentado pensando se continuaria a escutar todas as fitas cassetes. "Quantos merda vou escutar?", pensou. As vezes, a mesma palavra se repetia dez vezes ou até mais. Se levantou, colocou a fita no mesmo gravador que as gravava e apertou play. Seguiu uma sequência de palavras e apertou pause. Andou até a janela e olhou para as pessoas que andavam na rua, todas com agasalho e algumas com cachecol. Fechou os olhos por um instante, abriu e olhou novamente para a movimentação. Era uma tarde fria, onde o sol tentava aparecer no céu, mas estava escondido atrás das nuvens. Com o gravador na mão apertou o play. Começou a ouvir novamente sua voz, quase hipnoticamente, dizer palavra por palavra. Suas íris desceu até os cantos de seus olhos, e sua visão embaçou olhando para alguns carros parados na rua. Ele ouvia todas aquelas palavras, sem nexo, que não formavam nenhuma frase. A maioria delas pareciam descrever algum dia ruim, enquanto outras mostravam uma certa neutralidade, ou até seria uma forma de tentar esconder o dia ruim para ele em seu futuro; ele não tinha força para parar a fita. A sua voz começou a se misturar em várias camadas e as palavras estavam se tornando zunidos. O chão não parecia mais ser visto do quarto andar e sua vida não parecia ter tantos anos. Sentou de costas para a janela e escorregou até poder ver o céu nublado e pedaços de prédios. Aves voavam por entre os fios elétricos e tentavam escalar os topos de cada construção. Apertou stop. Ficou parado olhando para frente. Levantou e arrumou as fitas pelo piso, fez um quadrado. E, fita por fita, gravou o quase-silêncio por cima de todas aquelas palavras. Os pássaros lá fora batiam suas asas e cantavam suas músicas. As pessoas pisavam no chão e algumas conversavam assuntos animados. O vento fazia as árvores falarem por entre suas folhas, ramos e flores. Sentado no centro da sala terminou o que determinado fez. Todas fitas já estavam dentro de uma caixa regravadas. Guardou a caixa em um armário e o gravador em uma gaveta. Colocou um cachecol e saiu pela porta da frente. A janela ficou aberta, onde o sol, ainda no frio deixou alguns de seus raios passarem, enquanto terminava sua jornada pelo céu.
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