domingo, 21 de dezembro de 2008

os irmãos

achou ser imortal
tudo era carnaval
mas acabou-se
como tudo acaba
em uma terça
quase quarta
ou um dia
quase mês
um ano
uma vida


15/12/2007

vejo você

na(da) janela vejo tudo
vejo você, vejo tudo
e o sol veio levar
as cinzas que me entupiam
e foi junto as utopias
me deixando sem ar
sem mais pra respirar

22/12/2007

sábado, 20 de dezembro de 2008

passado

o vento veio e mudou
tudo a minha volta
eu continuei aqui
como sempre sou
sem nenhuma revolta
eu continuei aqui
em meio ao que estou
querendo nada de volta
eu continuei aqui
eu continuei aqui
eu continuei aqui


15/12/2007

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

5:25 janela, nenhuma pessoa
quero viver 5:26

domingo, 2 de novembro de 2008

vejo dois braços circundarem a mim.
(até aonde vão?)
pra todos os lados que luzes apontarem.
eu me despeço, aceno um adeus.

vejo duas almas se calarem,
onde luzes calmas as envolvem.

não vejo mais nada a partir de agora,
apenas em minha mente os seus olhos.
eu flutuo por corredeiras, não sei pra onde vão
tão violentas, vou como um errante
até o fim dessas águas.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

melodrama barato

tão só, eu nunca fiquei com você
bêbado em meus olhos lacrimejados,
não enxergava nem mais um palmo,
caido no meu próprio sofá
o quão triste posso ficar
nem mais eu sei



por que você é dona da madrugada
faz tudo acabar do nada

clareia o céu, assopra o vento

no cabelo traz as estrelas
são as últimas coisas que eu vejo

tudo se desfaz em milhões de formigas
no dia, no sol, girando os dedos

na luz vejo o pó gravitando no ar
se ligando em diferentes pontos

e não mais me espantam as estrelas
que acabam incendiando meu rosto

utopia

eu preciso voltar a escrever, estou desesperado.

Levantou-se e apenas levantou-se. As mãos na coberta. Olhou em volta, nada. Já andando pela sala, não sentia mais vontade em viver. Seria mentira se dissesse que em algum dia acreditou em um futuro grandioso. Não, não seria. Em algum dia ele acreditou que faria algo importante, que em algum momento no futuro chegaria no seu auge, no apogeu da vida, onde depois disso viria aos poucos o declínio. Mas, não acreditava mais nisso, estava já em seu declínio. A começar por não ter mais vontade pela vida, não ter mais vontade.

Sua perna paralisou, um dia desses, caiu de joelhos. Estava em sua casa, ninguém havia visto, mas se sentiu totalmente humilhado, o que antes vinha dos outros, a humilhação, veio de sua própria perna que o deixou cair, início da sua queda. Não conseguiu se levantar imediatamente, não sabia o que estava acontecendo. Até que com muito esforço ficou de pé, empalidecido, quase sem-força. Não podia mais acreditar em seu próprio corpo.

O passado o formou, ou o deformou, ou qualquer coisa que esteja ligado com seu desenvolvimento. As escolhas foram dele, escolhas em situações impostas pela vida. Não se mostrou um bom sobrevivente, talvez seria chamado de escória da humanidade. Ou talvez um pobre fracassado que não soube se impor. Então, ele não havia de reclamar. Apenas olhar aos poucos sua decadência.

^
lixo, preciso escrever, desesperado, não vejo um futuro, não sei se é isso que eu quero. como posso querer ser algo que eu não consigo mais fazer? um dia eu consegui escrever? vexame, pare de escrever em primeira pessoas, ninguém precisa saber que você é isso. não, não sou eu, é um personagem, meu heterônimo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

o fato de eu escrever nada esse mês não quer dizer que eu morri

apenas não tenho vontade de escrever nada, da mesma forma que não tenho vontade de conhecer mais ninguém, pelo simples fato de saber que esse alguém virá ou poderá vir a me machucar

textos podem me machucar, palavras podem me machucar, não quero me machucar com estórias que saem de mim

não quero me machucar com perspectivas inalcançáveis, não por querer se passar por intocável, mas por ter o poder de escolher e não querer ser mais ferido

situações que aparecem do nada e me fazem pensar que tudo vai ficar melhor, não passam de premissas para algo mal que irá acontecer

não sei se acredito nas pessoas, ou desacredito, isso me faz ficar mal, porque eu gostaria de acreditar e não ficar nessa dúvida

eu bloqueei o blog , mas vou desfazer isso, deixa estar como estar e ir como já foi

quarta-feira, 30 de julho de 2008

realmente

será tudo culpa minha? ou daqueles que me deixaram esse legado?
cada vez mais eu sinto que ninguém gostaria de se aproximar de mim, não é uma paranóia, não pode ser, não estou louco
não é, senão eu não estaria sozinho, eu devo ser uma desgraça
às vezes eu gostaria de apanhar, para acordar, apanhar, me fazerem sangrar, chutarem minha cabeça, me fazerem sangrar, isso que eu quero, é isso

não deviam me dar esperanças, não deviam

quando eu não consigo, eu me sinto pior, se havia uma esperança de eu conseguir
eu queria ser forte como os outros

sexta-feira, 18 de julho de 2008

um passo até esquecer
não existo em muitos momentos
um passo
outro logo depois
os pés doem
até esquecer
extrema disputa inconsciente
desisto, eu sou o fraco
a derrota é minha
até esquecer
logo depois

domingo, 13 de julho de 2008

apenas uma lembrança pode ser
aquela guardada onde for
lembrada depois de tempos
tantas pessoas se rodeiam
nomes, lugares, esperanças
escolhas que se vão em meio
as pequenas gotas de flores
o sabor de tudo condensado
e depois separado na cabeça
cada um fez parte de tudo
nomes, ocasiões, lembranças
rostos não esquecidos
átomo por átomo lembrado
o caminho separado
os passos adiantados
se resvalam nos atrasados
o que é tudo senão pensamentos
de cada um que passa
conceitos, mares, sorrisos
tristezas difundidas em lares
qual o objetivo que há de ser
da vida e seu prazer
siga, você vai até onde for
o meu coração segue
nomes, dores, lugares
aquele último passo
o caminho não acabou
apenas mudou os núcleos
e a marginalidade das escolhas
o primeiro toque no chão
e o impulso que eleva
a sua mente as mais altas nuvens

sábado, 12 de julho de 2008

meus olhos agora andam embaçados, não, apenas um deles. um se contrapõe ao outro, acho que estou perdendo o foco.

meu cérebro continua o mesmo em total discordância, ele me disse que se impor algo a mim, eu ia acordar. não acredito muito nisso, acho que tudo tem o seu tempo. mas até quando será o meu?

meu coração continua batendo, eu as vezes coloco minha mão sobre o peito e não o sinto, deve ser só impressão. eu me apaixono fácil, não devia, acho que me viciei nos amores platônicos, na idealização romântica.

minhas mãos agora estão frias, posso dizer que nem sempre são assim. acredito que seja o frio, sim...

tô perdendo o foco, é isso, sempre, o meu erro.

terça-feira, 8 de julho de 2008

pássaros em combustão caem do céu,
pontos pretos se destacam das nuvens cinzas
e ao sul um balão sobrevoa com suas fitas,
que com seus ecos vibram o que acontece ao norte
e repercutem-se na melancólica melodia da morte.
pássaros em chamas choram no chão,
ao chão se estendem todos que ali caíram,
onde tornam-se pequenas luzes na imensidão,
e do chão luzem os que dali saíram.
Os dias cortam a garganta que não se pronuncia. Vermelho é o que vejo. Um alarme toca a cada 1 minuto. Só vejo agora por um olho, o da derrota. Estou com a bandeira branca, peço clemência. Me encaram, riem, se regozijam. A alegria que um derrotado trás. O alarme toca todo santo 1 minuto. Todos seus olhos que encurvados se lacrimejam de tanto rirem. As suas bocas não soltam nenhuma palavra, apenas a risada. Onde está a saída? A bandeira vermelha estanca minha garganta, caio em meu sangue. Se cansaram do espetáculo, vão para suas casas, limpam a última lágrima. O alarme anuncia minha morte: a cada 1 minuto.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Por favor, me diga coisas bonitas e não tente me entender completamente.
Bosta de crise, não sou de falar palavrão, mas que bosta de crise. Queria apagar todo esse bla bla bla aí embaixo, não digo apenas do post embaixo, me refiro a tudo. E isso começa a acontecer frequentemente, sei de todo arrependimento que se vem depois que se apaga partes de sua vida, sei sim. Óbvio que isso já faz parte da minha vida, esse blog se tornou um certo escape, ou apenas um depósito, onde jogo quase tudo, na verdade isso se parece mais com uma lixeira. Seria idiota dizer que estou cansado, todos dizem isso ultimamente. Quanta besteira, vou publicar isso apenas pra ler depois.
Sinto me desgastando, eu sou escasso em meus ossos e carne,
não quero que ninguém tenha muitas esperanças quanto a mim.
Vocês podem me esquecer, enfim, eu fraquejo de medo.
Sou mais um covarde que escreve, pois nada faz,
todos esses hipócritas que dizem que todas as coisas são bonitas
enquanto todos vivem na merda, me sinto igual agora.
Não faço nada por ninguém, sou um fraco que não tem mais medo do escuro,
fico nele pensando sobre tudo, mas às vezes me vejo tentando escrever coisas belas,
uma grande terapia, de merda, posso dizer.
Quando todos vão se levantar e fazer algo? Quando o esgoto infundir em suas narinas
e não aguentarem, realmente, o seu odor? Quantas besteiras, porcarias,
escrevem tudo igual, não aguentarei muito mais.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

hoje é quarta feira
me traga mais tristeza
e um gole de sangue
do canto da boca

hoje é quinta feira
repito o inexistente
refaço o que fiz hoje
caio no abismo de ontem

hoje é sexta feira
me entupo de melancolia
me drogo com pensamentos
alucinógenos não são precisos

hoje é sábado
me deixe de lado
hoje é domingo
nunca me pediu cachimbo

hoje é segunda feira
me traga a realeza
que dessa vez
chuto suas bundas

hoje é um dia a mais
me convém dizer tanto faz

domingo, 15 de junho de 2008

um por um foi-se indo
seguindo o caminho
tornando-se vultos
no caminho de luzes
da rua; e nos fios
pássaros cantam
no frio cortante
da meia noite

sexta-feira, 13 de junho de 2008

quando o céu escurecer

Esse era um dia como todos os dias, até provarem o contrário. O mês era um dos doze. Fazia frio, o céu tava escuro e nublado. Ele olhava a luz da escrivaninha, era uma luz iluminada, não tanto porque historicamente tiveram luzes que iluminaram mais do que essa, mas essa tava em cima da sua escrivaninha e era a única que podia ver. Esperava ansioso uma resposta, tinha feito uma pergunta. A libélula apareceu na janela, ele correu até ela. Ela disse que tinha acontecido alguns problemas e acabou não conseguindo completar o que devia fazer. Ele, então, sentou na cadeira e revirou os dedos, que eram tortos. A libélula entrou e começou a se debater na luz, ele apagou-a. Pediu desculpas para ela. "A curiosidade matou o gato e não a libélula", disse a ele. Ele, intrigado, confirmou com a cabeça. Então, ficaram os dois no escuro.
Ele havia adormecido na cadeira, a libélula já tinha ido embora. Até agora não tinha a resposta. Agora via uma luz que iluminava mais do que a da sua escrivaninha, logo notou que era o sol. Foi até a porta, girou a maçaneta, fechada. Olhou em todos os cantos do pequeno quarto, desistiu e sentou na cadeira novamente. Enquanto olhava para a porta começaram a sair várias bolhas de sabão do buraco da fechadura. Aos poucos seus olhos se fecharam e adormeceu. Acordou assustado, já estava escuro. Acendeu a sua luz e esperou olhando para a janela. As nuvens se escureciam junto com o céu. As árvores eram apenas sombras. Seus olhos se fixavam além, esperando aparecer algo incomum. Quando a libélula chegou carregando algo. Ela jogou em cima dele o que carregava em suas fracas patas, era um urso de pelúcia. Ele sorriu, mas não entendeu o que ela queria dizer. "Essa é a resposta", disse a ele. Ele apagou a luz: "Eu preciso saber mais". "Tenho medo de não obter mais do que isso". Ele abaixou a cabeça e olhou para o urso. "Mas, vou tentar". Ele sorriu e segurou firme o brinquedo. As nuvens já se tornavam o chão para as árvores e a lua engolia tudo a sua volta.
Acordou, estava deitado no chão. Foi até a porta, girou a maçaneta, a porta não abriu. O sol não estava iluminando muito. Sentou na cadeira e ficou olhando para o urso. Acendeu a luz para enxergar melhor. O urso parecia ter sido mal-tratado, mas mostrava que alguém andou cuidando dele, pois estava cheio de remendos. Olhou para um canto de seu quarto e viu uma grande fileira de formigas que logo sumiam em uma fenda. Colocou o urso do lado da luminária, olhou para a janela e as nuvens se moviam devagar. A luz começou a piscar até não acender mais; o céu já escurecia. A libélula não voltou mais.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

dia vinte e um de um triste mês

Tinha acabado de acordar e me olhava no espelho do banheiro. Nada de diferente. Uma mosquinha de banheiro estava na pia (desculpa por não saber seu real nome), ela nem sequer notava que eu ia abrir a torneira e, talvez, a água a levaria para o ralo. Então, tentei tirá-la da pia, meio que empurrando com o dedo, sem encostar nela. Mas ela não saía da pia, tava sendo inútil o que eu fazia. Quando ela voou e posou em uma gota, se contorceu e virou de costas. Suas asas se desmancharam na gota d'água, enquanto suas patas se balançavam no ar. Pensei em esmagá-la com o dedo indicador, mas alguma coisa me impediu. Então, como se reivindicasse algo, esmaguei-a. Deixei a água levar os seus restos da pia e da minha mão. Levei-a até a morte, mesmo com o intuito de salvá-la. Estou muito triste.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

das terras exiladas que nem as cinzas restam
onde os pássaros, distantes, fogem depressa
não existe inverno, nem verão que esquente
a alma que deixava um corpo que pouco sente
- aqui jaz aquele de face feia e desdentada!
que no peito não levou nada
mas na cara deixou a sofrida inexistência
de um grito não lançado em meio
a sua bruxuleante essência

terça-feira, 3 de junho de 2008

o que hei de fazer

siga o seu caminho através de seus olhos
que eu seguirei o meu através dos meus
o real e irreal não podem morrer, pois um é a base do outro
em um caminho escuro posso ser minha própria luz
entrar em combustão para se enxergar os pequenos detalhes
para que eu possa narrar minuciosamente todos meus passos
as estrelas podem me ajudar, mas não vão ser elas que me guiaram
elas podem ser guias simbólicos, pois na minha alma é que encontra a minha vontade
a rua das orquídeas se fragmenta em pequenos ornamentos
que oram em comunhão de todos os presentes
então se vão as flores em chamas que, outrora, seriam frutos
pois tudo que eu esperei que pudesse ser ensinado em minha infância, não foi
não me ensinaram a viver, apenas a sofrer
não me ensinaram a expressar, mas venho tentando com o tempo
não me responderam as minhas perguntas
apenas me ensinaram coisas que eu não queria saber
agora tudo não passa de tentativas
estou preso em um quarto escuro e tenho só a mim para conversar

sábado, 31 de maio de 2008

éramos todos juntos um único ser
não chore quando um de nós morrer
fizemos o que podíamos
uma nação de pássaros seriamos
não quebraríamos as asas de ninguém

enquanto o sol nos esquentar
e nossa energia permanecer
ainda poderemos lutar
e não iremos, nunca, esquecer
aqueles que aqui, nesse chão, pisaram

com o tempo toda dor vai passar
e a liberdade vamos triunfar

quarta-feira, 28 de maio de 2008

eram todas formigas

Toda vez que eu passava por aquela rua, eu pensava no porquê de eu passar por aquela rua. Era como se eu não soubesse o que fazia, eram eternas perguntas sem respostas. Por que não virava naquela outra rua? Era como se eu tivesse preso àquilo, à todas as circunstâncias. Fios me puxavam e empurravam, me ditavam o que fazer. Tudo era encenado a minha volta, tudo acontecia tão igual. Em casa via formigas, elas não me viam. Se espalhavam por todas as paredes e logo se escondiam atrás de algum armário. Eu ficava em silêncio sentado no sofá, imaginava as formigas no metro, elas desciam as escadas e logo se escondiam atrás de um vagão. A sala podia ser branca e as formigas negras logo se destacariam. Toda vez que eu passava por aquela rua, eu me perguntava porque todos passavam por ela. Os seus rostos encaravam o horizonte e nada falavam sobre aquela rua. Por que aquela rua? Por que esse era o caminho? Quem disse a todos vocês que era esse o caminho? Queria seguir e pensar por mim mesmo, mas logo estarei caminhando por aquela rua. Não sei se me arrependerei, pois fiz planos para desvendar todas outras ruas, que eram estranhas, mas eram caminhos que eu podia seguir. Mas sei que tudo isso é difícil, pois aquela rua me prende à ela. Eram todas formigas! Eram todas formigas!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

quase torto e inacabado

foi sempre assim, a baixa auto-estima era constante
em alguns momentos aparecia um sorriso
mas sabia que logo viria alguma palavra fria cortante

era assim: tinha pouco sucesso obtido
pois logo se rebaixava àqueles de antes
fingia não ligar que nunca era querido

até quando iria aguentar as lágrimas para cair
e seu coração sufocado partir em alguns pedaços
e todo o quebra-cabeça de carne ruir

para pessoas assim não se faziam corações de aço
pois, a vida tinha que deixar fluir
e esperar no fim algum querido abraço

domingo, 25 de maio de 2008

papagaios são da chuva como eu sou da terra

Acordou assustado com a chuva na janela, já eram dez horas da manhã. Tinha perdido o horário que estava marcado para ir ao dentista. Ligou e pediu desculpas. Remarcou a consulta para outro dia, porque não tinha mais nenhum horário nesse dia. Era um sábado e os horários eram muito limitados. Enquanto tomava seu café, ouviu gritos. Abriu a janela e fechou o vidro. Através do vidro viu dois papagaios em cima do galho mais alto da árvore. Eles tavam encharcados e papagaiavam algumas coisas. Ele sentiu pena e não sabia o que fazer. Somente ficou olhando. "Pelo menos os dois tem um ao outro", pensou. Bebeu mais um gole de café. Os dois papagaios voaram até embaixo de um toldo. Ele se tranquilizou, não que estivesse muito preocupado, quem não pode tomar um banho de chuva? Sentou no sofá; a caneca agora estava vazia. Passou o resto da tarde pensando em algum livro para escrever ou uma canção para fazer. Mas não tinha experiência o bastante na vida para escrever algo que fizesse as pessoas gostarem. "Não consigo nem escrever algo para mim", pensou. Escreveu algumas palavras desconexas, não faziam sentido. Mas sempre sai alguma coisa, boa ou ruim, não importa. Não era algo pra ser lido com clamor, apenas era pra ler (posso dizer que quase travando). Ele não gostou, então deixou de lado e foi dormir.

Ele andava de uma forma mecânica, suas pernas iam sem os seus pensamentos. Ele tava pensando no que aconteceu no ônibus, antes de ele estar andando. Ele sentou no fundo do ônibus, onde tem cinco lugares juntos. Então, uma garota sentou no meio dos cinco lugares, deixou cair umas moedas. Ele pegou as moedas, ela agradeceu sorrindo e ele sorriu. Passando um tempo ela perguntou onde era o terminal que o ônibus parava, não para ele, mas para um rapaz que estava no outro canto. "Por que não para mim?", ele pensou. Eles estavam conversando agora, quase não dava pra escutar de tão baixo, mas dava pra perceber que o cara falava sobre sair em uma sexta e, tão rapidamente, pedia o celular dela. Ele se sentia constrangido com tudo isso e não conseguia parar de pensar. "Por que não perguntou para mim?", pensava. Sorriu indignado pela situação e olhou pela janela, as gotas da chuva eram finas e caiam intensamente; pois uma das mãos no rosto. Viu que o terminal estava chegando, porque para ele era o terminal que andava até o ônibus, e agradeceu por isso. Não quis ficar lá por mais tempo, ele levantou (antes do ônibus parar), pediu licença e passou. Com o guarda-chuva na mão e as pernas indo pensava em como ele podia ser a água e descer pelo bueiro. Chegou em casa, e cansado tomou seu banho. Depois ficou um tempo sentado no sofá olhando para a televisão. Não aguentou e foi dormir.

Acordou assustado com a chuva na janela, já eram dez horas da manhã. Tinha perdido o horário para ver o sol nascer. Mas via as nuvens se multiplicarem. Um papagaio se dividiu em dois e as árvores diziam estar lá embaixo do vôo deles. A chuva somou ao chão de cimento e o prédio enraizou suas colunas no chão, quase tombou. O papagaio que agora eram dois voou até a janela e se chocou contra ela e continuou fazendo isso. Ele assustado e aflito, pegou uma folha e escreveu:

"deixe-me ir, deixe acontecer, isso vai ser melhor pra mim!"

O prédio impelido pelas suas colunas, imergiu no chão. Levando ele e todos que moravam lá, soterrando seus corpos. Os dois papagaios tomavam a chuva em cima de uma árvore, no galho mais alto. Eles se apoiavam um no outro e cada um deixava meia lágrima se misturar com a chuva.

sábado, 24 de maio de 2008

céu

"Não sei quando as coisas vão cair do céu.", foram suas primeiras palavras. As segundas palavras já não foram muito bem entendidas. A sua dicção era horrível. Ele disse tudo isso enquanto chovia, o que fazia ele se contradizer, pois água caía do céu. Ele tentava tocar "Noite Feliz" no piano, embora fosse dia e não era, nem um pouco, feliz. Mas, mesmo com dor de cabeça, ele tocava nota por nota, mesmo que fora do tempo. E a chuva acompanhava o dia e porque não a melodia. Sorria pateticamente com os seus avanços, mesmo que sua vida não estivesse em harmonia. "Quando eu vou chover do céu? E tão rápido cair dele, não me espatifar. Eu sinto como se eu estivesse ali só esperando a minha hora chegar!" Daí se seguiu umas notas e tropeços em seus dedos. Então, ele voltou ao começo e foi assim até chegar a noite, não a feliz.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

yai

"Quando você está ao lado de um amigo, alguém chega e pergunta pro seu amigo porque ele está sozinho. É aí que você percebe ser invisível e, talvez, mais do que isso, um mau amigo.", enquanto dizia isso olhou para o chão, como se quisesse enterrar algumas de suas lembranças. Quando terminou de falar, olhou para mim de um jeito que, se não fizesse aquilo, parecia que eu ia deixar de enxergá-lo.

cryandcryandfight

we can sing our souls, before the death takes them out.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

são nossas, as perdas

Sentiu um arrepio enquanto andava pela rua. O frio cortava, não tão fundo, somente para deixar um pequeno fio de sangue. A pessoa continuou andando, tentava levantar a cabeça, mas ela continuava a cair e olhar pro chão. O capuz protegia seus pensamentos um pouco densos. Estava com um moletom. Fazia tanto frio que aquele moletom fino não a protegia em nada, e agora se culpava por isso. Esquecera também os seus fones, mas tinha medo de escutar certas músicas em situações como essas. Porque se quisesse escutá-las outra vez, lhe trazeriam lembranças ruins. Ela seguia pelas ruas que estavam iluminadas, muitas ruas tinhas suas luzes apagadas. Então ziguezagueava pela sua pequena e conhecida cidade. Talvez as luzes levassem ela até algum lugar bom. Ou talvez não, a energia elétrica tava ficando escassa, então, talvez, deviam estar economizando, não sabia. Não imaginou muito, logo se situou na alternativa de que apenas deviam ter apagado as luzes dos postes de algumas ruas para economizar. Ninguém era doido de andar em ruas assim as 2 horas da manhã, por isso o vazio. Mas nunca está vazio, sempre há uma gota. Essa gota passava frio, mas passava isso porque queria, uma penitência. Nós fazemos em nós o que nosso arrependimento diz para fazermos. Então ela se machucava, precisava disso. As suas palavras tinham machucado muito outros, ela fazia isso porque ela mesmo estava machucada. Outros machucaram ela, pessoas que ela não considerava em nada. Então, fez sofrer quem ela amava. Tudo por causa de ressentimentos guardados em suas lembranças. Eram suas lembranças. Caiu de joelhos na calçada, o poste de luz que estava em cima dela apagou. O vento era forte e levava algumas folhas de árvores (não se sabe da onde veio, porque não tinha nenhuma árvore naquela rua). Seu rosto tentava levantar e ficar quarenta e cinco graus em relação ao chão, mas não conseguia muita coisa, porque logo fechava os olhos e abaixava a cabeça. Colocou as duas mãos no chão. Não sentia mais frio, apenas pequenos vestígios daquele vento. Sua forma não era mais a mesma; sua roupa já não estava em seu corpo, estava no chão rasgada. Suas patas, firmes, no chão. Era um urso solitário, o único da sua espécie.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

raízes

As suas mãos eram raízes, mas não estavam na terra. Elas não queriam se fincar na terra. Porque sempre pensaram que ali não era o lugar delas. Gostavam de apontar para o céu, e ir além dos céus. Sonhavam em penetrar as nuvens, e mais além as estrelas. Mas só de pensarem no além e na imensidão desse ficavam paradas, estáticas. Pois, o medo descia em forma de grandes chuvas, encharcando-as, deixando-as pesadas e fracas. O além era muito além do que elas podiam chegar. Pensavam que o universo podia ser cortado por elas, e talvez, se descobriria um novo verso. Mas, isso não aconteceria, pois como disse, o peso era muito para se aguentar. Então, ficaram ali mesmo. As vezes apontavam para o céu, apenas como um ritual, e as vezes apontavam para o chão, para se lembrarem aonde pertenciam.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

tristeza

eram momentos onde não se podia dizer
pois nada poderia ser dito
e nem era de se esperar alguém
que sabia calcular a velocidade da vida

tudo vai tão devagar quando não se tá bem
queria que fosse assim com o seu sorriso
fazer isso durar como a tristeza
que não me deixa descansar nem um minuto

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Fita cassete

As aves voavam no céu, enquanto sua mente estava presa em alguns problemas. Em sua mão ele tinha uma fita cassete de muitas ali jogadas no chão, onde gravava uma palavra por dia desde os seus vinte anos. Há sete anos ele dizia uma palavra por dia e no chão, cheio de fitas, estava a prova disso. Claro que não as gravava todo dia, porque tinha dias que ele ficava escutando tudo que ele tinha gravado. E esse estava sendo um dia desses. A janela aberta trazia outros ares para aquela sala e deixava cair alguns papéis perto dele, que estava sentado pensando se continuaria a escutar todas as fitas cassetes. "Quantos merda vou escutar?", pensou. As vezes, a mesma palavra se repetia dez vezes ou até mais. Se levantou, colocou a fita no mesmo gravador que as gravava e apertou play. Seguiu uma sequência de palavras e apertou pause. Andou até a janela e olhou para as pessoas que andavam na rua, todas com agasalho e algumas com cachecol. Fechou os olhos por um instante, abriu e olhou novamente para a movimentação. Era uma tarde fria, onde o sol tentava aparecer no céu, mas estava escondido atrás das nuvens. Com o gravador na mão apertou o play. Começou a ouvir novamente sua voz, quase hipnoticamente, dizer palavra por palavra. Suas íris desceu até os cantos de seus olhos, e sua visão embaçou olhando para alguns carros parados na rua. Ele ouvia todas aquelas palavras, sem nexo, que não formavam nenhuma frase. A maioria delas pareciam descrever algum dia ruim, enquanto outras mostravam uma certa neutralidade, ou até seria uma forma de tentar esconder o dia ruim para ele em seu futuro; ele não tinha força para parar a fita. A sua voz começou a se misturar em várias camadas e as palavras estavam se tornando zunidos. O chão não parecia mais ser visto do quarto andar e sua vida não parecia ter tantos anos. Sentou de costas para a janela e escorregou até poder ver o céu nublado e pedaços de prédios. Aves voavam por entre os fios elétricos e tentavam escalar os topos de cada construção. Apertou stop. Ficou parado olhando para frente. Levantou e arrumou as fitas pelo piso, fez um quadrado. E, fita por fita, gravou o quase-silêncio por cima de todas aquelas palavras. Os pássaros lá fora batiam suas asas e cantavam suas músicas. As pessoas pisavam no chão e algumas conversavam assuntos animados. O vento fazia as árvores falarem por entre suas folhas, ramos e flores. Sentado no centro da sala terminou o que determinado fez. Todas fitas já estavam dentro de uma caixa regravadas. Guardou a caixa em um armário e o gravador em uma gaveta. Colocou um cachecol e saiu pela porta da frente. A janela ficou aberta, onde o sol, ainda no frio deixou alguns de seus raios passarem, enquanto terminava sua jornada pelo céu.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Filme não gravado

Em dois quadros
muito menos que um segundo
eu sou todos os defeitos
desse mundo

defeitos que você não quer ter
e que você nunca vai querer

nesse mundo
eu não tenho feitos
nem por um segundo

em um filme não gravado
fui o cenário não usado
enquanto o seu sorriso
se confundia com a luz
que invadia o mundo todo

Vento

Caminhei até o banco mais alto, não era meu lugar preferido, sempre gostei de me esconder atrás desses bancos mais altos. Mas, foi o primeiro que vi e que estava vazio; sentei. O vento batia em meu rosto e eu fechava meu olho direito dependendo da intensidade que ele vinha. E meus cílios foram levados, um a um, pelo vento, como a flor dente-de-leão. Meus cílios-de-leão foram levados pelo vento da tarde-móvel. Eles se perderam por ruas, não acharam em que coração cair. E meu olho se desmanchou em gotas que no asfalto foram sangue, minha visão não era mais a mesma. Em meu cérebro sopraram remorsos. O vento ainda batia em meu rosto e eu deixei levar parte de mim. Fui desaparecendo, quando o som seco do freio me fez levantar e deixar um pedaço da minha vida na fresta daquele banco.

sábado, 12 de abril de 2008

Como não ter medo de algo que você, de alguma forma, acha que vai ser inevitável acontecer? A permanência em uma solidão que não tem fim, onde os seus desejos nunca vão ser reconhecidos como sinceros, então nunca serão realizados. Onde olhares não bastam, porque o homem esqueceu isso; ele sempre precisa falar, as vezes, até demais. Esqueceu que a comunicação, nem sempre, é feita somente de palavras jogadas ao léu.

Será se a pessoa consegue continuar vivendo se não tem nem um pouco de esperança? Pois, todos têm um pouco de esperança, por mais que diga que não tenham. Só continua vivo aquele que acredita que algum dia a felicidade será a parte predominante de sua vida, se já não é. Minha vida seria até boa, se não me sentisse tão mal. Por que você ainda acredita nessas mentiras?

Acho que faço as questões erradas, e quero as respostas certas. Ou eu deveria parar de questionar e desistir de tudo. Cada dia mais eu me sinto desmanchar em cima do meu pescoço. Meu silêncio pode terminar com todas essas palavras, pois, venho a pensar, que essa é a melhor coisa que eu sei fazer.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A única certeza que eu tive foi de quem eu gostei, pois nunca estive certo de quem nutrisse os mesmos sentimentos por mim. A maior parte da minha vida eu vivi em minha mente; quase nunca levei meus pensamentos para fora da minha cabeça, o caminho do meu cérebro para minhas cordas vocais sempre eram impedidos por um não. Então me tornei aquele que não contesta através da fala, mas que tem uma contestação infindável dentro do seu crânio e que acumulou-se o bastante para sentir a pressão dos pensamentos presos. Eu dificilmente consigo me aproximar das pessoas, e agora sofro por ser assim; pensei que eu era anti-social, mas na verdade sou ao contrário, eu necessito das pessoas. Eu deixo pessoas que gosto passarem por minha vida, e acabo não conhecendo pessoas que eu julgo interessantes; é como se o sol elevasse do horizonte e seus raios cortassem as nuvens através de pequenas frestas, e enquanto isso eu olho para uma tela branca com um quadrado preto em seu meio.

domingo, 2 de março de 2008

A minhas incertezas se penduram nas minhas certezas, pendendo e caindo para um lugar tão fundo que não consigo imaginar.